quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Um dia de Geni

Sexta-feira passada foi meu dia de cão.
Como não tenho aula esse dia da semana, a idéia era dormir até mais tarde. Só não dormi como acordei ainda mais cedo que o normal, lá pelas 6h50. Se fosse de minha vontade até vai lá, mas não, foi da vontade da minha querida-temporária-e-alemã colega de quarto. Ah, vale a ressalva de que estou morando temporariamente num albergue (no sentido menos social da palavra). Até que é bem bacaninha. Em uma semana, já passei por vários quartos com várias pessoas diferentes. Umas bem legais, outras tudo bem e algumas que nem percebi que aqui tiveram. Essa da terra do homem do bigodinho foi a mais notável. Ela veio passar uns dois dias em Dublin com uma amiga. Eu até que tentei, mas apenas trocamos duas palavras, hi e bye, já que ela estava na cama de cima da minha e precisávamos ser ao menos educadas. A amiga era divertida, mas já a pequena notável, desnecessária. Eis a lógica do negócio:
- Aqui o café da manhã é servido das 8h até 10h;
- Um europeu não demora mais do que 10 minutos no banho;
- Normalmente num albergue, as malas nem são desfeitas;
- Ir do 3º andar (onde era o quarto) ao 1º andar (onde o café é servido) não leva 3 minutos.
Ou seja, qual a necessidade em acordar com tanto tempo assim de antecedência num quarto onde todos estão dormindo e a luz está apagada e nada se vê? Ok, ela pode ter perdido o sono. Ficasse quieta. Não, a doce menina fez o trajeto cama-chão repetidas vezes usando, é claro, a escadinha que fica ao lado da minha cabeça. Cada vez que chegava ao chão ela abria a mala ou tocava em ruidosas sacolinhas plásticas. Na cama, era a síndrome das pernas inquietas. Fiquei arrependida de não tê-la mandado a merda dormir de novo. Ponto para ela. As 8h, ela foi tomar café da manhã e eu dormi de novo. Ela voltou e eu acordei. Daí, ela dormiu (!!!!!!!!!) e eu aproveitei para dormi também. As 9h ela, que já estava acordada de novo, foi secar o cabelo. E para que usar o secador que há no banheiro com a porta fechada? Ela teve a solidária e sagaz idéia de ligá-lo no meio do quarto (!!!!!). Simples assim. Mais um ponto para ela. Eu bufei, levantei e quase rosnei. Fiquei mais uma vez arrependida de não tê-la mandado dormir. Numa atitude nobre de minha parte, fui tomar um banho-não-europeu e a fiz esperar horas só para escovar os dentes. Ponto para mim. Depois saí sem ao menos dizer bye dessa vez.

Depois de enrolar toda a manhã, fui almoçar com a Bora, a Ka Hee e a Heesun. Sim, são pessoas e sim, são nomes de meninas. Era despedida da Bora. Triste. Super inovando, fomos num outro restaurante coreano, muito mais gostoso. Por coincidência, encontramos o Mingu por lá. Era despedida dele também. Triste. Eu havia sido convidada, disse que não poderia ir, mas, no entanto, lá eu estava. Situação confortabilíssima. Na verdade, fui forçada a negar o convite dele. Por mim, iríamos todos juntos. Só que coreanos são estranhos. Como só a Bora conhece o Mingu, seria muito chato se juntássemos todos e todos passassem a se conhecer (!). Coisas da mente amarela. A coincidência, no final, foi feliz. Acabamos almoçando meio que juntos, mas claro que em mesas separadas (!). Ponto para mim. Na tentativa de adiar o tchau definitivo, falei para as meninas que poderíamos ir a algum pub à noite. Só que seguindo a linha de raciocínio amarela, fui gentilmente não-convidada para a festa de despedida da Bora. Ela iria sair com os amigos da sala dela (que há 1 mês atrás era minha também) e como eu não os conhecia, não poderia ir junto (???). Ponto para ela. Quando perguntei ao Mingu o que ele iria fazer, tive a mesma resposta “Vou sair com o pessoal da minha sala”. Péhh! Ponto pra ele. Assim, jogada as traças, voltei para o albergue.


a comida é coletiva e meu prato preferido é esse primeiro. Não sei bem do que se trata, mas é lula preparada de um modo coreano


super no clima do korean gesto

Ao entardecer, tinha um apartamento para visitar. Sim, estou à procura de algo menos coletivo e mais pessoal para morar. Enfim. Coloquei meu super casaco xadrez que eu tanto gosto e lá fui eu, a pé, conhecer um apartamento para dividir com duas francesas. Como as ruas aqui em Dublin nem sempre têm nomes, não era por menos que eu não achasse a que queria ir. Parei por segundos para pensar numa alternativa, quando um casal de brasileiros simpaticíssimo passou por mim. Ele dizia a ela “Tudo aqui é estranho. Esse povo é esquisito. A comida...o estilo...as roupas...olha essa coisa quadriculada”. Sim, era eu e meu casaco. Enfim. Liguei para a francesa avisando que estava perdida e nada dela responder. Mandei mensagem, liguei de novo e nada. Ou seja, fui lá à toa e fiz papel de boboca. Ou melhor, elas é que eram bobocas. E mais uma vez jogada as traças resolvi voltar para o albergue.

Durante meu trajeto, cruzei com duas jovens irlandesas perturbadas. Elas falavam escandalosamente. Por algum motivo muito obscuro dentro daquelas cabecinhas cheias de nada, uma delas segurou meu braço (?!). Vai ver ela queria meu casaco. Ainda bem que ela logo soltou e não tive maiores problemas. Só que na mesma rua, um pouco mais a frente, passei por um grupo de fedelhos e fedelhas. Eu estava de um lado da rua e eles do outro. Deviam ter uns 12-13 anos, todos alvos, usando cortes de cabelo de gosto mais do que duvidoso, agasalhos de moletom e tênis do tipo Keds. Quando eu tinha a idade deles, também era a moda usar Keds. A diferença é que na minha época só as meninas usavam. Enfim. Eles são os garotos problema de Dublin, segundo meu mais novo amigo irlandês que depois venho a contar dele, esses delinqüentes são conhecidos como Scumbags. Já cruzei com vários deles por ai, mas nunca tive problemas. Só que como dizem, se tudo pode ficar pior, por que não ficar? Para encerrar o dia em grande estilo, esses dementes jogaram pedras em mim (?). Assim, super normal. Coisa de gente sã. Pelo menos as pedras não eram grandes. Não fiz nada, nem olhei para o lado. Só queria sair dali. Pensamentos muito do mal me passaram pela cabeça e a minha vontade era de apedrejá-los com tijolos ou blocos de concreto, caso eu conseguisse erguer um. Nem nossos faveladinhos se comportam de maneira tão selvagem. Bando de amadores.
Finalmente, depois de conseguir chegar sã e salva no albergue, resolvi que dali não sairia mais. Pena que resolvi isso tarde demais. Nunca tinha participado de tanta desgraça. E muito coxinhamente falando, o que me abalou mais mesmo foi o casaco. Não, não foi. Fiquei bem triste que meus amigos jaspions foram embora. Sentirei falta dessa complexidade de seres humanos. E voltamos ao alto custo social em fazer amigos. Pontos para eles.
Beijos em quarentena,
Ellen

Scumbag: é usado para descrever alguém que não vale nada, tipo a escória humana.


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Maria Pita e seus amigos

Estava na dúvida se escrevia sobre isso ou não, mas me achando a propagadora de informações resolvi fazer de tal assunto uma espécie de utilidade pública. Porém, como vai ano e vem ano eu continuo com a mesma prolixidade e contarei a história desde o começo. E agora agravada por essa carência de gente-recém-chegada.

Como minhas vindas para cá são sempre (ok, essa foi a 2a. vez) um pouco conturbadas, dessa vez não foi muito diferente. Quer dizer, em partes. Pelo menos até a hora do embarque e um pouco depois. Se era para levantar voo (já na versão ortograficamente reformada) às 21h30, só lá pelas 21h45 é que fui conseguir entrar no avião. Também pudera, era final de semana de chuva em SP. E se só o fato de alguém cuspir no chão causa transtornos, quando chove de verdade, causa um colapso. Era um tal de passar gente com radinho para lá e radinho para cá: "Tá indo pra Viracopos?", "Não vai pousar?". Só coisas animadoras e que me traziam a mente a palavra Congonhas. As novas valetas (ou seja qual for nome daquilo) deviam ter entupido. Não sei e confesso nem querer saber como funciona isso, mas acredito que vários voos devem ter ido pra Cumbica. O que sei é que um maledeto avião da TAM que ia pro RJ estava estacionado na vaga do meu avião(?). Coisa de paulista procurando vaga no shopping aos finais de semana. E lá ficamos como uma grande e agitada família ocupando todo o saguão. Era gente da Iberia e da TAM tudo bem perdidamente juntinho. Até que dava pra separar. Os de casacos e botas eram do primeiro, e os de havainas do segundo. Eu continuei sentada e assistindo a tudo aquilo. O que me deixou feliz é que ao invés de 1 dia de atraso, dessa vez foi só 1 hora. Ponto para Maria Pita*!


Dentro do avião em si é que começa essa coisa de utilidade pública. Lá fui eu para minha classe ultra econômica. Aliás, se não tivéssemos que passar pela 1a. classe para chegarmos lá, continuaríamos sabendo que a econômica é ruim, mas não que é tãaao ruim. Enfim, lá fui eu me ajeitar para minhas intermináveis horas de voo e sono. Cobertozinho ali, cinto aqui, tênis lá e o travesseirinho. Caramba! Que travesseirinho nojento! Tudo bem que pode ser algo inocente de minha parte, mas eu realmente acreditava que eles trocavam a cada voo. Só que não! Quando estava a afofar o meu notei não uma pequena mancha, mas sim um dos lados completamente manchado por um colarinho-azul-marinho-suado. Foi a visão do inferno. Como ainda estava sozinha na poltrona, super malandra, resolvi terceirizar meu problema e o troquei com o do meu vizinho. E mais uma vez aconteceu. Dessa vez havia um mini cabelo do tipo corte masculino. Deve ser do amigo do de colarinho azul. Que coisa desagradável. Já sem opções ao meu alcance pedi para a aeromoça trocar. Ela tentou, mas não haviam novos travesseirinhos disponíveis. Segundo ela, 30 lugares estavam vagos e ela poderia pegar algum assim que todos embarcassem. Como assim?! Mais um usado?! Eu comecei a suar frio. Onde colocaria minha cabeça pelas próximas 10h? Já comecei a pensar em forrá-lo com o plástico do cobertozinho, embrulhá-lo com alguma roupa minha, qualquer coisa. Porém, havia o risco de morrer sufocada ou ficar sem roupa para usar nesses dias frios de Dublin, e foi aí que eu vi a luz. Sempre (sempre mesmo) tirem a fronha dos seus travesseirinhos. Como sei que poucas pessoas lêem isso daqui, eu posso dizer assim abertamente. Afinal, se todos resolverem tirar a fronha, danou-se. E dos 30 lugares vagos, um era ao meu lado. Ponto para mim! Fiz de lá minha cama e ao invés de um, usei dois travesseiros sem fronha.

beijos nus,
Ellen


* Eis a Maria Pita..

Por alguma estranha razão, talvez numerológica, os aviões da Ibéria tem nome. Acho caloroso.



Os patos que não vão...

Eis as fotos da minha voltinha na segunda-feira....


com um pouco mais


com um pouco menos


a metade de lá congelada


o congelado de perto


os patos/pássaros/pombos albinos/coisas voadoras curtindo a parte não congelada (óbvio)

beijos em flocos,
Ellen

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Fáilte!

Cá estou novamente. Aos desavisados, já fui e já voltei, só não avisei. Quero dizer, não publicamente. Como nem tudo que é bom obrigatoriamente dura pouco, junto comigo volta o blog. Olha que jóia. E volto numa versão super revigorada-a-la-gás-total. Além é claro de um pouco mais baiacu (pelo mens uns 250 kg exageradamente espalhados por toda minha extensão) e um bronzeado de fazer inveja a mais rosa das pessoas. É o que acontece quando pessoas são privadas de boa comida e luz solar por um bom tempo. Ou vai ver que é o calor que incha. Vai saber.

Cheguei ontem quase a noite. Se antes eu descascava por causa do calor, agora descasco por causa do frio (!!). Agora faz 1°grau e chove levemente. Dizem que a sensação térmica é de -4°. Que seja. Continua frio. Eu gosto. Hoje fui dar umas voltinhas pela cidade. Claro que ela não mudou estruturalmente, mas a neve que resolveu cair após 20 anos deu um charme a mais. Ao contrário do que todos pensam, não é comum nevar em Dublin. Só que esse ano, tudo que não havia nevado, nevou. Agora restam alguns montinhos brancos espalhados, lagos congelados nos parques e a água da neve derretida nas ruas. A previsão do tempo diz que irá cair alguns floquinhos essa madrugada e talvez amanhã. Veremos. Depois eu conto para vocês.
beijos refrescantes,
Ellen
P.S. Nas minhas andanças, acidentalmente, já encontrei uma das coreanas. A Ka Hee. Não sei se já falei dela antes, mas é uma das muitas. Estudávamos juntas e ela normalmente fazia parte da trupe que me acompanhava ao korean restaurant. E depois dizem que Jaú é pequena. Ahã.
P.S. Claro que gostei de ter encontrado a Ka Hee, mas gostei mais ainda de ter visto vocês.

*Fáilte = bem vindo em gaélico