quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Bai Bai

Hi people,

Confesso que fico até envergonhada ao voltar a escrever aqui depois de tanto tempo. E digo mais, logo após questionar sobre a assiduidade alheia. Que papelão! Não é que gosto menos de vocês, é que tive duas semanas agitadas por aqui. E agora num momento de fragilidade, tenho que dizer que nem sei mais por onde começar. Enfim, aqui estou e já é alguma coisa. Creio eu.

Já que não tenho um começo, usarei um final. Isso porque foi o fato mais recente e também não deixa de ser um trocadilho bem colocado. Vocês estão sentados? A notícia é de chocar (fujam do senso comum, pois não estou grávida e também não me casei com um irlandês branquelo-porém-bonito). A japa-crazy-girl, que também não sofre de nenhum desses problemas, se foi. Não dessa vida. Voltou para a terra do arroz.
As aulas dela terminaram há duas semanas e o plano era procurar um emprego, morar perto do mar (em Bray, a cidade-vila-sei-lá-o-quê) e por lá viver uma vida pacata até abril do próximo ano. Tudo muito bonito e zen. Eu fazia planos e até já tinha me convidado para visitá-la num fim-de-semana ensolarado. Ok, estou certa que isso não contribuiu em nada para ela partir. Até mesmo porque final-de-semana ensolarado é raro por aqui. Só que como tenho o dom de atrair pessoas com probleminhas, dessa vez não foi diferente. E ainda com um agravante, a desconhecida-por-mim cultura do chá verde. Depois de apenas três meses aqui, minha comedora-de-sushi favorita abriu seu coraçãozinho e me disse que pensava em voltar para o Japão. Segundo ela, o tempo em Dublin é horrível e é mais do que um motivo suficiente(?). Ok, eu que venho de um lugar onde o inverno atinge 32 graus não tenho falta de vitamina D aqui, logo não será ela que terá. Aliás, aqui faço uma observação. Essa história do tempo de Dublin é muito mal contada. Todo ser humano quando decide vir para cá, uma hora ou outra, se depara com a informação de que aqui chove 360 dias no ano, pelo menos. Ou seja, nenhum motivo para surpresa e/ou frustração ao ver os primeiros pingos. Além desse caso nipônico, normalmente brasileiro fica muito nervoso com o tempo daqui. O interessante é que a maioria é paulistano. E se ainda me lembro bem, SP é carinhosamente chamada de terra da garoa, não?! E pasmem, muito provavelmente isso seja por causa de suas habilidades climáticas. Ahã! Muito mais do que intrigante. Enfim, voltamos ao caso em questão. Como sou incomodada com essa história do tempo, acabei descobrindo a verdade. Logo que ela chegou aqui, enviou uma carta ao tal do quase-namorado e depois de três meses o super-zeloso-e-dedicado rapaz respondeu. Por e-mail. Ela se estremeceu e resolveu voltar. Eu dormiria melhor com a história do tempo. Perplexa, acho que a deixei envergonhada. Então a isso, ela somou saudades da família. Disse que iria passar um mês lá e depois voltava. E quem acredita? Deve ser o sangue kamikaze nas veias japonesas. Essa era a última semana dela. Eu, e até mesmo o espanhol, estávamos certos de que ela partiria no sábado. Iria gravar um cd com músicas brasileiras, mas não deu tempo. Sem querer, descobrimos após o jantar de ontem que o voô dela era essa manhã. Ou seja, só consegui fazer uma lista com nomes das músicas. Segundo o espanhol e seus comentários, deve ser alguma tradição japonesa manter tudo em segredo. Tenho que dizer que me senti menos querida. E acho que o doido do espanhol também. Só que japonês é japonês. E depois ela se redimiu. Conseguiu meu perdão quando mostrou meu nome traduzido para o japonês. Não sabia que era tão complexo. Para minha leiga pessoa, bastava escrever de maneira ornamentada. E como todo nome oriental, cada letra vem adicionada de um significado. O meu, pintura + amor. Muito bonito. Pela primeira vez, não tenho que me fingir de Elena para ter algum significado. Agora tenho as minhas próprias letras. Tá, na verdade meu nome em japonês se torna Eren. E por mais estúpido que isso possa parecer, uma vez errei meu nome e me chamei de Eren. Ok, ridículo. Só que agora vejo como um momento de super-sensibilidade. Aliás, eu acho essa história toda muito interessante. Tanto para os coreanos quanto para os japoneses (e possivelmente para os chineses) os nomes são escolhidos baseados nos significados. Por exemplo, descobri que Bora significa violeta. Só ainda não descobri quais produtos ilícitos os pais dela faziam uso para querer dar esse significado para a filha. E digo mais, se minha mãe soubesse disso há alguns anos atrás, provavelmente eu teria esse nome hoje. Ainda culturalmente envolvida, mostrei coisas do Brasil e ela do Japão, obviamente. Vi japonesas trajando um quase-kimono e flores no cabelo numa praticamente-colação-de-grau. Mostrei também minhas fotos e minha beca agora-sem-graça-americana. Assistimos uma parte de um desfile de carnaval. Mostrei onde fica SP e obviamente centralizei Jaú. E aproveitando esse momento de esclarecimentos, comentei sobre um tal vídeo que recebi há quatro anos atrás com alguns japoneses-safados cantando Yata. Ela morreu de vergonha. Ficou quase que sem ar, de novo. Na tentativa de ajudar, mostrei É o Tchan com Carla Perez em seu auge. Acho que a acalmou. Contei a ela sobre o blog e só não digo que ela se tornou uma de vocês por questões ridiculamente óbvias, mas passou a acessar meu álbum de fotos.


as habilidades de uma japonesa com um origami





há!


(ok, a foto vale mais como um registro aqui)
eu fiz o rosinha que na minha opinião parcial ficou jóia
a japa até ficou boquiaberta. Ponto pra mim!


Tá, a foto é tosca. Eu sei
Só quero compartilhar meu momento de aprendizado.
(o inglês aí é da italiana que morava aqui em casa até semana passada, o boneco da esquerda é meu e o da direita é da Hiromi- como vocês podem observar na legenda)

Por mais imperceptível que ela fosse na maioria das vezes e ainda que tivesse algumas atitudes estranhas, tenho que dizer foi uma baixa importante. Gostava de nossas conversas e de assustá-la com nossas diferenças culturais. Acho pouco provável, mas gostaria de vê-la novamente aqui. Afinal, adoro gente com probleminhas.
beijinhos pasmados,
Ellen

P.S Super recomendo o vídeo dos sushis-men. Para aqueles que não sabem como essas espécies de portais funcionam, é só clicar em cima do nome dos japoneses no texto acima. Mais uma vez, aconselho abrir em uma outra janela.

P.S 2 Aos poucos estou de volta! =)


domingo, 17 de agosto de 2008

Ah, o verão na Irlanda!

beijos roxos,
Ellen

sábado, 16 de agosto de 2008

See you

Disse que ia almoçar e já voltava, mas não foi verdade. Agora, depois de três almoços, dois jantares aqui estou e pelo jeito aqui permanecerei um tempo. Hoje chove alucinadamente e faz frio, por isso me permiti acordar ao meio-dia. Desde que cheguei, foi a primeira vez que escutei um trovão e vi um raio. O pior, não tenho mais guarda-chuva. Tinha metade dele até outro dia, mas o esqueci num táxi. Provavelmente, o taxista deve ter considerado um ato de vandalismo quando o viu. Aliás, não sei o por quê, mas irlandês não usa guarda-chuva. Nem em dilúvios. Questão de orgulho, talvez. Usar um é como aceitar o problema. Não sei.


Enfim, como já estou cansada de falar e vocês provavelmente de ler, ontem foi sexta-feira e como toda semana, dia de dizer bye-bye. É um ciclo cansativo. Nas duas últimas semanas tive três baixas consideráveis que fizeram da minha pessoa-desprovida-de-sentimentos, um pouco mais sensível. Ok, os asiáticos continuam sendo a base do meu convívio social, com destaque para os coreanos. Só que outras pessoas surgem e desaparecem na mesma intensidade. Na minha sala apareceram uma espanhola e uma russa há algumas semanas atrás. A primeira vez que vi a espanhola pensei que ela fosse brasileira. Confesso que num ímpeto egoísta e nacionalista senti meu território invadido. Só que logo na primeira palavra dita, foi fácil perceber a origem. Serei justa, ela é uma amadora se comparada ao inglês trapalhão do espanhol daqui de casa. O nome dela é Tamara e a melhor frase, "see you tomorrow Tamara". A russa, uma adolescente de 18 anos, estuda economia em numa cidade perto-quase na Ucrânia. Como sempre, só amigos da minha faixa etária. Gente boníssima. Junto com ela chegou mais uns 30 russos. Todos da mesma faculdade e de férias. Foi uma invasão russa (trocadilho super atual). Não sei se é um jeito russo de ser, mas as meninas estavam sempre impecáveis. Maquiadas e de salto. Ok, um pouco anos 80 e desconfortável para quem pega ônibus e anda a pé. Pareciam seguir militarmente os estranhos conselhos recebidos por uma menina na década de 40. Só que algumas eram bem bonitas. Aliás, vocês não tem a impressão de que tudo que é relacionado a Rússia é meio parado no tempo? Meio esquecido. Velho. Sei que eles querem ser, e às vezes de fato são, os primeiros em tudo. Só que falta algo. Talvez marketing (que coisa nerd-e-infeliz). A maioria do grupo era meninas. O único menino que vi junto era a coisa mais esquisita. Além de ser uma quase menina. Duas pernas longilíneas com uma cabeça loura no topo. Aqui vale uma confissão-cheia-de-vergonha, toda vez que o via lembrava de Pablo. Conheci várias meninas do grupo, até mesmo porque o Mingu vivia atrás delas para aprender a falar nomes feios em russo. Ele criou uma obssessão por isso. Fora a da minha sala, fiz amizade com mais uma, a Irina. Divertidíssima! A melhor frase " don´t cry for me Irina". Nesse meio tempo aprendi algumas coisas em russo. O alfabeto é bem complicado, mas entendi porque todos os russos chamam blablabla-vich e as russas blablabla-vna. Encantando a todos com a melhor pronúncia, até mesmo porque imagine um coreano falando russo, gravei até um videozinho falando russo para a mãe de uma delas, a tia Natasha. Nome de vodka ruim. Ou seja, elas tem o mesmo espiríto da gente. Fazer vídeos para a posteridade, vamos assim dizer para eu me sentir menos boba. Na verdade as meninas me ensinaram apenas algumas coisas, o resto aprendi com um outro russo da minha sala. Ele é mega-ultra-super conservador e nacionalista. Tudo que se refere a Rússia é melhor, maior e verdadeiro. Não sei o que fizeram com esse garoto. Sempre que há discussão sobre algum assunto, nós discordamos. Segundo o espanhol (que tem uns comentários ótimos), eu devo ficar esperta já que o russo é de tamanho proporcional ao seu país. E como andam falando mal da Rússia nesses últimos tempos, ele anda nervoso. Para ajudar, essa semana entrou na nossa sala uma italiana chamada Geórgia. Agora me sinto mais segura, já que o foco não é mais a minha pessoa. Se bem que, depois das aulas de russo e de demonstrar meu interesse pelo país, ele me vê com outros olhos agora. Continuamos não concordando em nada, mas viramos amigos.


algumas meninas da minha sala - exceto a última
Soo (coreana), Tamara (espanhola), Shizuka (japonesa), Olga (russa) e Irina (russa)


Ontem foi a despedida mais recente. Um dos meus professores está voltando para a França. Não, ele não é da turma dos bicudinhos. Ele é um autêntico irish que dá aulas na terra de Napoleão. Sem dúvida foi uma das pessoas mais inteligentes e interessantes que conheci. E talvez, um dos melhores professores que já tive. Aliás, como sou quem escrevo, farei uma pausa para um comentário paralelo. Ou melhor, um desabafo.

(como sabem, essa parte é opcional)
Essa semana fiquei transtornada de uma maneira russa. Meu outro professor que também é bom, mas super-se-acha, fez um comentário muito infeliz para minha pessoa. Estávamos discutindo justamente a Rússia na mídia e blábláblá. Depois de o russo confessar que acredita só no que o presidente dele fala (?!), evoluímos o assunto para manipulação no geral. Conversa vai e conversa vem, chegamos nos supermercados. Não, não estou louca. Falávamos que nada nessa vida é por acaso. Daí comentei que para mim os supermercados irlandeses são um tanto quanto estranhos. E que as coisas são dispostas de uma maneira bêbada. Ele nem me deixou terminar, e me contou a super-novidade-uhuu de que tudo é planejado! Jura?! Eu estudei preciosos anos da minha vida para aprender, maquiavelicamente, a oferecer as soluções dos problemas da vida de um consumidor, e ele vem me contar isso como se eu fosse uma besta?! Faça-me o favor! Não é por que não sei como falar "rua de paralalelepípedo" em inglês, que sou uma estúpida na minha língua nativa. Agora não me venha querer convencer de que colocar pães quentinhos em frente a sessão de carne congelada é planejado. Ou que, é um baita negócio vender fraldas junto com os pratos prontos. Ou ainda que, compramos petiscos como amendoim e salgadinhos por impulso, já que ficam no mesmo corredor de comida para gatos! Argh...!


(agora podemos dar continuidade...)
Fomos almoçar todos num pub perto da escola. Num processo de decisão super difícil, fui salva ao ler a sugestão do chefe para o dia " Feijão preto com molho + arroz + bife". Senti como se estivesse num oásis. Parecia que aquele cardápio tinha sido feito para mim. Ia comer feijões. Para meu espanto, no prato havia apenas 12 (quase 13) feijões submergidos numa imensidão de molho doce e marrom. Ok, não era o que eu sonhava, mas até que estava bom.


John. O professor irish.

Na volta para casa, ganhei carona. Aliás, é a terceira vez! Na nossa sala tem um coreano bem de vida que comprou um carro aqui, e ele vive dando carona pra gente nessas ocasiões. Networking jóia esse. Ponto pra gente. Ingênua a gentileza alheia, cometi uma gafe patética. Super malandra e independente, vi o coreano indo para o lado esquerdo do carro e automaticamente, fui para o lado direito. Estava ridiculamente me espremendo entre a porta e a parede, quando escuto "Ellen, o que v. tá fazendo aí? V. é desse lado" (lembrando que aqui eles dirigem do lado contrário. Ou seja, meu lugarzinho de passageira era na esquerda). Eu olho e lá está ele com a porta aberta esperando. E ainda por cima tenho que escutar que não sei receber gentilezas. Na verdade, acho que não sei mesmo. Estou tão pouco acostumada que tenho dificuldades em lidar com isso. Que coisa triste. Dá pra repensar na vida. Enfim...


beijos dos lado direito,
Ellen


P.S. Há! Ontem o centro do universo estava em comemoração. Jaú fez 155 anos! (se não estou enganada)
P.S 2. Como vocês puderam notar, agora temos links interativos por aqui. Sugiro que abram em outra janela para evitar transtornos. Pâm, agradecida pela ajuda. Te dedico Pablo! = )

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Perdidos e achados

Hi people,

Nos últimos dias recebi alguns emails diferentes, mas revelando a mesma coisa. Novos leitores! Sim, se você ainda está pensando que é a oitava pessoa aqui, muito se engana. Abruptamente, agora somos 13! Segundo a tradição irlandesa-brasileira é um número a se preocupar, mas não deixo de dormir por isso. Nesse assunto tenho a mesma opinião do nosso sábio-vivido-e-canarinho Zagallo. E num momento coxinha, tenho que dizer que ao receber tais emails e saber que atingimos impressionante marca, um sorriso foi arrancado de minha face. Thx!
Aproveitando o momento bajulação, tenho que dar as boas-vindas publicamente ao meu comentarista oficial e nas horas vagas também wikipedia-interativa. Zezolino, quem é vivo sempre aparece! =)

E já que abri meu coração, por onde andam minhas amigas desbravadoras?! Até mesmo minha mãe (!) sumiu com seus comentários.
beijos paradoxais,
Ellen
P.S. Como já disse, a tal da expectativa se mal usada, é um perigo. Por isso, longe de mim querer criá-la nesse momento. Na verdade, eu só gostaria de avisá-los que já já os atualizarei dos últimos acontecimentos. Vou almoçar (e?) e já volto.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Irish way

Eles cantam português igual a gente canta inglês. Quer dizer, nós não. =)



(Ignorem a minha pessoa cantando no começo. Fiquei empolgada e esqueci da vida)

beijos nativos,
Ellen

P.S - Esse é um pub tradicional e menos turístico aqui. Em lugares assim, as pessoas chegam, tiram seu violão ou seja lá o que for, e começa a tocar. Depois chega outro que se junto, e por aí vai. É genial.

P.S 2 - Ah, e todos no pub sabiam essa música. Ou melhor, conheciam.

Dias depois

Meus fiéis,

Ontem fez exatamente 30 dias que eu os privo de minha agradável companhia. Como têm sobrevivido?!

Desde então, as coisas têm sido mais ou menos assim:
- descobri que a Guinness nem é tão boa assim. Vale mais pelo folclore;
- inúmeras vezes tive que mostrar minha identidade para entrar nos pubs. Sempre agredeço quando me pedem;
- comecei a gostar de tomar leite puro;
- das minhas 30 noites aqui, só tive cinco jantares alternativos-sem-batata (pizza, comida chinesa, macarrão e macarrão de novo);
- a pergunta que mais escutei foi: "vocé é mesmo brasileira, tem certeza?" ;
- um francês já me achou francesa, um italiano já me achou italiana e um dublinense já me achou irlandesa;
- ainda não me acostumei a cumprimentar as pessoas com aperto de mão;
- continuo atraindo loucos;
- aprendemos a soletrar caipirinha numa das minhas aulas. Ela estava no meio de outras palavras alemãs incompreensiveis usadas como exemplo;
- já me perguntaram 2 vezes se eu falo francês (?);
- agora uso corretamente os hashis;
- conheci 13 pubs diferentes. Voltei em alguns;
- já vi irlandês e até romeno cantando/tocando música brasileira;
- ouvi arigatô de uma japonesa, croissant de um francês, Abramovich de um russo, hola, que tal? de um espanhol, Ronaldinho de um coreano, cheers de um irlandês e Oioli de um italiano;
- estive perdida inúmeras vezes;
- já perdi o último trem para casa outras inúmeras;
- descobri que italianos, espanhóis e brasileiros podem cada um falar a sua língua e ainda assim se entenderem. Isso vale as vezes também para os franceses;
- ah, eles também acham estranho o aperto de mão;
- conheci uma russa que comeu carne de urso, um coreano dono de uma escola de dança e duas japonesas que usam kimono;
- continuo não sabendo de que lado os carros vêm;
- ganhei flores de um leprechaum. Só que tive que devolvê-las, já que foi apenas para uma foto;
- tive aulas de russo e de coreano;
- e até agora, 1 amigo brasileiro que conversa em inglês.

Como diria os irlandeses, so far so good! =)

Beijos saudosos,
Ellen

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Baía de todos os santos

Esse final de semana, foi feriado por aqui! =)

Aliás, os feriados irlandeses são estrategicamente alocados. Fora os já conhecidos e usados por todos como Natal, dia do trabalho e essas coisas, eles têm os Bank Holidays que nada tem a ver com os bancos! Na verdade, soa mais como uma desculpa para ter algumas segundas-feiras livres durante o ano. Isso porque todos são nesse dia (isso mesmo, todos!). Ou seja, já que no senso comum o dia mais odiado é a segunda-feira, por que não eliminá-la?! Simples assim.
Não programei nenhuma viagem mirabolante, já que sou praticamente um recém chegada e soube muito tardiamente que seria um dia off. Na verdade até tentei, mas os preços das passagens ridiculamente inflacionaram. E se a opção era ficar pela Irlanda, não havia mais vagas em hostels. Ainda não entendi por que o verão (?) irlandês é tão atrativo assim. Talvez seja exótico. A solução foi conhecer as cidadezinhas perto de Dublin e o destino escolhido foi Howth, e de trem! Ok, o mesmo quase-trem de antes. Antes, vamos com a parte didática da história (se v. acha que eu falo muito e já se cansou de todo esse blábláblá, vou te ajudar. Se não quer saber o que é Howth e nem onde fica, pode pular a parte seguinte).

(essa é a parte opcional, mas recomendada)
Howth era-quase-ainda-é uma antiga vila de pescadores ao norte de Dublin. Aliás, nunca a rosa-dos-ventos foi tão utilizada por mim. Não, não ando com bússola. Só que todos aqui dão direção baseados nisso, até mesmo para comprar o ticket do trem você precisa saber se quer ir para o norte ou para o sul de Dublin. Além de bater palma com classe, vejo que voltarei absurdamente norteada. Retomando o assunto, a vila-subúrbio-lugarejo fica na Baía de Dublin e tem um dos principais portos daqui. Aliás, foi por aí que os irlandeses receberam as armas usadas na Revolução de 1916 (quando parte da Irlanda se tornou independente da Inglaterra e virou Rep. da Irlanda) e também foi o primeiro ponto de chegada dos vikings na Irlanda. E já que o assunto foi mencionado, tenho que dizer que a história daqui é muito, mas muito interessante. Tanto a velha quanto a nova. Talvez seja por isso que os irlandeses são tão bacaninhas assim hoje.

(pronto...)
O tempo esse final de semana foi o tipicamente irlandês, vento e chuva. Aliás, desde então o tempo está assim. Voltamos ao verão irlandês depois de 2 semanas de sol e calor por aqui. As primeiras impressões quando cheguei lá foram: pássaros, espaço e menos gente do que em outros lugares. A primeira coisa que todos fazem, até mesmo pela inércia da saída do trem, é ir diretamente para o porto. O lugar é pitoresco e estranhamente bem-bonito. Há milhares e milhares de pássaros, o que me deixou consternada. Não gosto de coisas que voam aleatoriamente sobre a minha cabeça. Fiquei idiotamente um bom tempo ali. Isso por que o local é frequentemente visitado por focas! Sim, focas irlandesas. Nunca vi nenhuma em minha vida (esqueçam zoológicos) e fiquei ali, no lugar certo esperando a hora certa. Esperei e esperei. Tirei milhares de fotos compulsiva e entediadamente. Nada aconteceu! Fiquei aborrecida. Culpa da tal da expectativa. Cansada e vítima fácil dos pássaros por ali, fui andar pela parte urbanizada. E foi aí que houve alguns momentos cinza, vamos assim dizer. Passei primeiro pela marina, já que era caminho. Não era só mais barcos, eram milhares de veleiros. Senti até um frescor quando os vi. Aliás, a Irlanda é um lugar jóia para velejar, eu acho. Segundo meus conhecimentos nulos sobre isso, sei apenas que é preciso vento e água, obviamente. E aqui esses dois fatores existem em abundância. Tanto que meu guarda-chuva que já estava metade quebrado não resistiu ao vento marítimo desse passeio. Ao lado da marina há um monumento de cartão de postal. Na base dele há plaquinhas em homenagem aos mortos e aos eternamente desaparecidos no oceano. Cada uma conta a história de alguém. Triste. Enquanto estava por lá, vi umas ruínas numa parte alta da vila e era para lá que eu ia, já que agora só escalo (tudo bem que essa daí não devia nem ter 20m). O vilarejo é todo bonitinho e arquitetado na linha da criatividade irlandesa, todo igual. E como toda vila, a peça central é a igreja. Fui visitá-la. Todos os bancos possuíam também plaquinhas. Cada uma tinha o nome de uma pessoa ou família para ser incluída nas orações. Duas vezes triste. Saí de lá, passei por umas lojinhas e entrei numa ruazinha simpática. Sem querer, era lá que estava o tal do castelinho desmoronado. Na frente, tinha um restaurante abandonado. Fui tirando fotos loucamente e quando vejo, o tal castelinho era o que sobrou de uma Igreja de um cemitério. Clima escuro e medieval. Agora sabe-se por que o restaurante não foi para frente. Ponto de venda bom.



plaquinhas


restaurante e castelinho

Arrepiada com isso tudo, resolvi voltar a beira mar e caminhar até farol. Antes, comi fish and chips! Aqui há dois tipos de serviço: restaurante ou o take away. Esse último podemos resumir em pegar sua comidinha e ir embora com ela num saquinho de papel. É mais barato também. Sei que temos quase isso no Brasil, mas aqui o povo compra e senta para comer logo ali, praticamente na frente do lugar. Ninguém volta pra casa. Querendo fazer parte da cultura local, comprei meu peixe fresco (afinal, estava no habitat natural dos peixes) e batatas (afinal, a Irlanda é habitat natural das batatas). Tudo devidamente ensacadinho, e nada de jornal! Sentei num muro em frente ao mar e por lá fiz minha refeição usando única e exclusivamente minhas mãos. Senti como se fosse uma predadora nata comendo peixe como se fosse uma barra de chocolate.


ok, foto nojenta! Sorry.
(o branco é sal, pois v. tem que temperar com sal e vinagre. Eu dispenso o vinagre)

O caminho até o farol é longo (não para mim, claro!), bonito e bem fresquinho. É uma espécie de passarela no oceano com rampas laterais que v. pode usar para chegar até umas pedras, e logo ao Mar da Irlanda. Não é aconselhável. E nem se fosse eu iria. Não gosto muito de mar, menos ainda na sua parte mais profunda. E aquela área quando venta, venta mesmo! O que faz com que o mar se torne ainda maior. Ok, não há lógica nessa relação entre vento e mar, mas é a sensação que tenho. No farol, que nada difere de outras nacionalidades, pode-se ver melhor a Baía de Dublin e a Ireland´s Eyes, já que fica apenas há uns 3km de distância. Essa é uma ilha não habitada que se tornou uma espécie de santuário dos pássaros. Confesso que não sei exatamente o que se tem ali, apenas sei de duas construções que são visíveis do farol. A Martello Tower, que foi construída para evitar uma possível invasão de Napoleão e as ruínas de uma igreja de 700 AC. Há alguns barcos que levam as pessoas até lá, mas a brincadeira sai por 15 euros! Ou seja, eles ganham 1 euro por minuto!!! Então numa visão simplista, já que não gosto de oceanos profundos com rajadas de vento e menos ainda de pássaros enlouquecidos, o que fazer lá?! Fica para uma próxima.



rampa + pedras + mar


Ireland´s Eyes
(lado esquerdo: Martello Tower e lado direito: ruínas da época dos vikings)
Ah, a foto foi tirada com o celular, por isso suas limitações


Antes de pegar o trem de volta, fui a praia novamente. Dessa vez havia areia, muita. Ainda assim é diferente do Brasil. Na verdade, era uma praia meio esquisita se analisada friamente. Senti uma sensação boa de estar no meio do nada. Um espaço grande e vazio. Foi lá que vi o maior céu da minha vida. E foi lá também que escutei os tais do sons da natureza, só a água e o vento. Nada mais.


espaço
(celular de novo)

beijos aportados,
Ellen

P.S. Aqui na Irlanda, há uma lenda relacionada as focas. Há duas versões, a mórbida e a dramalhão mexicano. Na primeira, dizem que as focas são as pessoas que morreram nos oceanos. Já na segunda, as focas podem virar humanos ao retirarem suas peles de foca! É quase nossa sereia, só um pouco mais paspalhona e rechonchuda. Tem uma música beeeem antiga irlandesa que conta a história de um pescador que casou com uma mulher-foca (?). Como todo homem, ele não escutou sua mulher e foi pescar no meio de uma tempestade (inteligente). Obviamente, ele teve problemas e quem foi salvá-lo? A mulher-foca!!!! Sim, ela vestiu sua pele de novo e abriu mão de sua vida humana para fazer isso. Cá entre nós, ele não merecia! Estúpido demais.

P.S 2 - Mais uma vez esqueci de carregar a máquina e mais uma vez a bateria do meu celular não foi também suficiente. Acho que isso me desespera e motiva, 460 fotos! Algumas estão no álbum http://picasaweb.google.com.br/ellen.oioli/ .

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Vinho irlandês

Pessoas adoráveis,

Tenho que confessar uma coisa antes de tudo. Fui relapsa, não fiz minhas anotações essa semana e o pior, deixei tudo a mercê de minha memória. A conclusão é de que não me lembro de detalhezinhos para deixá-los a par, então usarei meus arquivos fotográficos para tentar me lembrar de tudo o que fiz (isso soa estranho). E já que o assunto está tomando um rumo esquisito, tenho outra confissão. Sim, eu anoto as coisas que acho valer a pena contar a vocês depois. Ok, vamos encarar isso como dedicação e não como algo doentio.

A semana que passou começou de uma maneira muito estranha. A Hiromi, a japa-crazy-girl, estava doente (leia-se gripada). Ela ficou mal o final de semana inteiro e sensibilizada, até ofereci alguns dos milhares de remédinhos que mamãe mandou junto comigo para cá, mas ela recusou. Japoneses se curam naturalmente, a base de chás. Depois de vê-la piorar cada dia mais, passei a desacreditar nessa cultura dita sábia e milenar. Acho que ela também. Estávamos jantando na terça-feira e ela começou com umas conversas estranhas. Primeiro comentou que estava achando estranho eu estar em casa (ok, eu moro aqui!) e não ter planos para sair aquele dia (ok, era terça-feira). Achei um tanto quanto atrevido, mas depois a verdade veio à tona. Ela perguntou se eu estava pensando em fazer algo depois do jantar e eu sincera e secamente disse que não, que meu plano era ficar em casa e assistir a um filme. Daí ela se usou do fato de termos que conversar em outra língua e jogou uma bem-elaborada indireta-quase-direta. Eu falo que ela é malandrona! Conclusão, me senti mal em recusar ao pseudo-convite-quase-forçado e fomos ao Temple Bar. O objetivo dela era seguir os conhecimentos irlandeses do "enjoy yourself com uma Guiness" para a cura. Faço aqui uma pausa para um momento de lembranças. Fiquei doente semana passada (e pensando nisso agora, ela pode ter ficado doente por minha causa. Bad Ellen) e fui com o francês fazer a mesma coisa. Para meu espanto, estava jóia no dia seguinte. Ela sabia disso, e vendo que os chás eram ineficientes, resolveu apelar. Ok, lá fomos nós. Já aqui faço uma observação. No último final de semana chegou um espanhol de fala incompreensível aqui em casa. Uma mistura de espanhol e inglês-de-sotaque-espanhol, o tal do espanglês. Os asiáticos falando inglês soa como música se comparado ao dialeto usado por ele. Não escreverei muito sobre isso agora, pois acho que merece um capítulo a parte. Enfim, fazendo as honras da casa o convidei para ir conosco em nossa jornada de cura. Notei que a japa ficou incomodada, afinal eles não conseguem conversar. É muito engraçado. Tenho que fazer a tradução as vezes. Uma coisa é certa, se o inglês não ficar, o meu espanhol ao menos ficará muito jóia! Retomando, lá fomos nós três. Como é divertido! Durante o trajeto eu e a japa escutamos uma música vindo de algum lugar (óbvio!) e resolvemos entrar numa ruela para tentar descobrir de onde. Nesse momento, o espanhol de 2m de altura se revelou amedrontado com a situação. Ah, faça-me o favor! Primeiro porque estávamos numa das ruas principais da cidade, segundo que mesmo se estivéssemos na periferia de Dublin ainda estariamos seguros e terceiro que era só uma rua! Eu fiquei incrédula! Disse para ele se acalmar, pois estava seguro comigo e com a japa. Ela achou engraçado. Aliás, as vezes eu me sinto como se fosse uma representação da liberdade de expressão para ela. Acho que na cultura-do-peixe-cru há uma certa repressão, pois ela jamais expressa o que está pensando. Bom, no final das contas não encontramos o tal do lugar da música e fomos para o T. Bar. Antes, ficamos um tempo sentados na beira do fresco Rio Liffey em busca da cura da Hiromi e depois fomos em busca de irish music. Bom, ou ela morria ou se curava de vez. Sobreviveu, mas para se certificar teve que tomar um dos meus remédios primeiro. Ironias culturais.


japa


espanhol


meus roomies

beijos sadios,
Ellen

P.S- Essa história de beber uma Guinness parece conversa de gente irlandesa, mas até que tem seu fundamento. Várias vezes já ouvi por aqui que beber uma pint de Guinness por dia faz bem. Aliás, é um hábito comum entre as avós e avôs aqui. É a tal história da taça de vinho. Bom, já diria o slogan da cerveja há milhares de anos "Guinness. Is good for you".

P.S 2 - Como sou leiga no assunto, confesso que não sabia a utilidade da tal bolinha que vem dentro da latinha da Guinness. Agora eu sei! É uma bolinha com nitrogênio que faz com que a espuma fique muito mais cremosa quando servida no copo. Quase-como-se-fosse tirada na hora.