quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Baía de todos os santos

Esse final de semana, foi feriado por aqui! =)

Aliás, os feriados irlandeses são estrategicamente alocados. Fora os já conhecidos e usados por todos como Natal, dia do trabalho e essas coisas, eles têm os Bank Holidays que nada tem a ver com os bancos! Na verdade, soa mais como uma desculpa para ter algumas segundas-feiras livres durante o ano. Isso porque todos são nesse dia (isso mesmo, todos!). Ou seja, já que no senso comum o dia mais odiado é a segunda-feira, por que não eliminá-la?! Simples assim.
Não programei nenhuma viagem mirabolante, já que sou praticamente um recém chegada e soube muito tardiamente que seria um dia off. Na verdade até tentei, mas os preços das passagens ridiculamente inflacionaram. E se a opção era ficar pela Irlanda, não havia mais vagas em hostels. Ainda não entendi por que o verão (?) irlandês é tão atrativo assim. Talvez seja exótico. A solução foi conhecer as cidadezinhas perto de Dublin e o destino escolhido foi Howth, e de trem! Ok, o mesmo quase-trem de antes. Antes, vamos com a parte didática da história (se v. acha que eu falo muito e já se cansou de todo esse blábláblá, vou te ajudar. Se não quer saber o que é Howth e nem onde fica, pode pular a parte seguinte).

(essa é a parte opcional, mas recomendada)
Howth era-quase-ainda-é uma antiga vila de pescadores ao norte de Dublin. Aliás, nunca a rosa-dos-ventos foi tão utilizada por mim. Não, não ando com bússola. Só que todos aqui dão direção baseados nisso, até mesmo para comprar o ticket do trem você precisa saber se quer ir para o norte ou para o sul de Dublin. Além de bater palma com classe, vejo que voltarei absurdamente norteada. Retomando o assunto, a vila-subúrbio-lugarejo fica na Baía de Dublin e tem um dos principais portos daqui. Aliás, foi por aí que os irlandeses receberam as armas usadas na Revolução de 1916 (quando parte da Irlanda se tornou independente da Inglaterra e virou Rep. da Irlanda) e também foi o primeiro ponto de chegada dos vikings na Irlanda. E já que o assunto foi mencionado, tenho que dizer que a história daqui é muito, mas muito interessante. Tanto a velha quanto a nova. Talvez seja por isso que os irlandeses são tão bacaninhas assim hoje.

(pronto...)
O tempo esse final de semana foi o tipicamente irlandês, vento e chuva. Aliás, desde então o tempo está assim. Voltamos ao verão irlandês depois de 2 semanas de sol e calor por aqui. As primeiras impressões quando cheguei lá foram: pássaros, espaço e menos gente do que em outros lugares. A primeira coisa que todos fazem, até mesmo pela inércia da saída do trem, é ir diretamente para o porto. O lugar é pitoresco e estranhamente bem-bonito. Há milhares e milhares de pássaros, o que me deixou consternada. Não gosto de coisas que voam aleatoriamente sobre a minha cabeça. Fiquei idiotamente um bom tempo ali. Isso por que o local é frequentemente visitado por focas! Sim, focas irlandesas. Nunca vi nenhuma em minha vida (esqueçam zoológicos) e fiquei ali, no lugar certo esperando a hora certa. Esperei e esperei. Tirei milhares de fotos compulsiva e entediadamente. Nada aconteceu! Fiquei aborrecida. Culpa da tal da expectativa. Cansada e vítima fácil dos pássaros por ali, fui andar pela parte urbanizada. E foi aí que houve alguns momentos cinza, vamos assim dizer. Passei primeiro pela marina, já que era caminho. Não era só mais barcos, eram milhares de veleiros. Senti até um frescor quando os vi. Aliás, a Irlanda é um lugar jóia para velejar, eu acho. Segundo meus conhecimentos nulos sobre isso, sei apenas que é preciso vento e água, obviamente. E aqui esses dois fatores existem em abundância. Tanto que meu guarda-chuva que já estava metade quebrado não resistiu ao vento marítimo desse passeio. Ao lado da marina há um monumento de cartão de postal. Na base dele há plaquinhas em homenagem aos mortos e aos eternamente desaparecidos no oceano. Cada uma conta a história de alguém. Triste. Enquanto estava por lá, vi umas ruínas numa parte alta da vila e era para lá que eu ia, já que agora só escalo (tudo bem que essa daí não devia nem ter 20m). O vilarejo é todo bonitinho e arquitetado na linha da criatividade irlandesa, todo igual. E como toda vila, a peça central é a igreja. Fui visitá-la. Todos os bancos possuíam também plaquinhas. Cada uma tinha o nome de uma pessoa ou família para ser incluída nas orações. Duas vezes triste. Saí de lá, passei por umas lojinhas e entrei numa ruazinha simpática. Sem querer, era lá que estava o tal do castelinho desmoronado. Na frente, tinha um restaurante abandonado. Fui tirando fotos loucamente e quando vejo, o tal castelinho era o que sobrou de uma Igreja de um cemitério. Clima escuro e medieval. Agora sabe-se por que o restaurante não foi para frente. Ponto de venda bom.



plaquinhas


restaurante e castelinho

Arrepiada com isso tudo, resolvi voltar a beira mar e caminhar até farol. Antes, comi fish and chips! Aqui há dois tipos de serviço: restaurante ou o take away. Esse último podemos resumir em pegar sua comidinha e ir embora com ela num saquinho de papel. É mais barato também. Sei que temos quase isso no Brasil, mas aqui o povo compra e senta para comer logo ali, praticamente na frente do lugar. Ninguém volta pra casa. Querendo fazer parte da cultura local, comprei meu peixe fresco (afinal, estava no habitat natural dos peixes) e batatas (afinal, a Irlanda é habitat natural das batatas). Tudo devidamente ensacadinho, e nada de jornal! Sentei num muro em frente ao mar e por lá fiz minha refeição usando única e exclusivamente minhas mãos. Senti como se fosse uma predadora nata comendo peixe como se fosse uma barra de chocolate.


ok, foto nojenta! Sorry.
(o branco é sal, pois v. tem que temperar com sal e vinagre. Eu dispenso o vinagre)

O caminho até o farol é longo (não para mim, claro!), bonito e bem fresquinho. É uma espécie de passarela no oceano com rampas laterais que v. pode usar para chegar até umas pedras, e logo ao Mar da Irlanda. Não é aconselhável. E nem se fosse eu iria. Não gosto muito de mar, menos ainda na sua parte mais profunda. E aquela área quando venta, venta mesmo! O que faz com que o mar se torne ainda maior. Ok, não há lógica nessa relação entre vento e mar, mas é a sensação que tenho. No farol, que nada difere de outras nacionalidades, pode-se ver melhor a Baía de Dublin e a Ireland´s Eyes, já que fica apenas há uns 3km de distância. Essa é uma ilha não habitada que se tornou uma espécie de santuário dos pássaros. Confesso que não sei exatamente o que se tem ali, apenas sei de duas construções que são visíveis do farol. A Martello Tower, que foi construída para evitar uma possível invasão de Napoleão e as ruínas de uma igreja de 700 AC. Há alguns barcos que levam as pessoas até lá, mas a brincadeira sai por 15 euros! Ou seja, eles ganham 1 euro por minuto!!! Então numa visão simplista, já que não gosto de oceanos profundos com rajadas de vento e menos ainda de pássaros enlouquecidos, o que fazer lá?! Fica para uma próxima.



rampa + pedras + mar


Ireland´s Eyes
(lado esquerdo: Martello Tower e lado direito: ruínas da época dos vikings)
Ah, a foto foi tirada com o celular, por isso suas limitações


Antes de pegar o trem de volta, fui a praia novamente. Dessa vez havia areia, muita. Ainda assim é diferente do Brasil. Na verdade, era uma praia meio esquisita se analisada friamente. Senti uma sensação boa de estar no meio do nada. Um espaço grande e vazio. Foi lá que vi o maior céu da minha vida. E foi lá também que escutei os tais do sons da natureza, só a água e o vento. Nada mais.


espaço
(celular de novo)

beijos aportados,
Ellen

P.S. Aqui na Irlanda, há uma lenda relacionada as focas. Há duas versões, a mórbida e a dramalhão mexicano. Na primeira, dizem que as focas são as pessoas que morreram nos oceanos. Já na segunda, as focas podem virar humanos ao retirarem suas peles de foca! É quase nossa sereia, só um pouco mais paspalhona e rechonchuda. Tem uma música beeeem antiga irlandesa que conta a história de um pescador que casou com uma mulher-foca (?). Como todo homem, ele não escutou sua mulher e foi pescar no meio de uma tempestade (inteligente). Obviamente, ele teve problemas e quem foi salvá-lo? A mulher-foca!!!! Sim, ela vestiu sua pele de novo e abriu mão de sua vida humana para fazer isso. Cá entre nós, ele não merecia! Estúpido demais.

P.S 2 - Mais uma vez esqueci de carregar a máquina e mais uma vez a bateria do meu celular não foi também suficiente. Acho que isso me desespera e motiva, 460 fotos! Algumas estão no álbum http://picasaweb.google.com.br/ellen.oioli/ .

4 corações abertos:

Pâm disse...

Ellen, chorei de rir com a lenda da foca e sua habilidade pra contar casos insólitos de forma hilária... E vc continua boa fotógrafa! Mto legal o lugar! Me senti homenageada =)

Unknown disse...

Ellen só hoje vi o seu álbum.Muito lindas as fotos.Beijos saudosos jauenses.

Mr. Japys disse...

Trilha - Oasis - Bonehead's Bank Holiday

Não sabia o que eram esses feriados desde o penúltimo post quando vi no site do Bon Ga o tal do Bank Holiday discriminado com preço diferenciado. Fui atrás e descobri um pouco sobre. Viva Wikipédia!!!

HAHAHAH

Que medrosa impressionável... HAHHAHAHAHAHHA

Vinagre??? Eita... Gosto tanto de vinagre qto gosto de canela... credo... ARGH!!!!!!

o seu AC é After Christ, certo???

Uáta fâck Ireland Eye's???

Como vc sabe que a praia é diferente das do Brasil se vc nunca foi à praia aqui???

Essa placa é muito boa!!!!! http://picasaweb.google.com.br/ellen.oioli/Howth2Agosto08/photo#5231497685099661090

E não fique preocupada. É divertidíssimo te ler.

beijos

Lilit disse...

focas são demais!