sábado, 16 de agosto de 2008

See you

Disse que ia almoçar e já voltava, mas não foi verdade. Agora, depois de três almoços, dois jantares aqui estou e pelo jeito aqui permanecerei um tempo. Hoje chove alucinadamente e faz frio, por isso me permiti acordar ao meio-dia. Desde que cheguei, foi a primeira vez que escutei um trovão e vi um raio. O pior, não tenho mais guarda-chuva. Tinha metade dele até outro dia, mas o esqueci num táxi. Provavelmente, o taxista deve ter considerado um ato de vandalismo quando o viu. Aliás, não sei o por quê, mas irlandês não usa guarda-chuva. Nem em dilúvios. Questão de orgulho, talvez. Usar um é como aceitar o problema. Não sei.


Enfim, como já estou cansada de falar e vocês provavelmente de ler, ontem foi sexta-feira e como toda semana, dia de dizer bye-bye. É um ciclo cansativo. Nas duas últimas semanas tive três baixas consideráveis que fizeram da minha pessoa-desprovida-de-sentimentos, um pouco mais sensível. Ok, os asiáticos continuam sendo a base do meu convívio social, com destaque para os coreanos. Só que outras pessoas surgem e desaparecem na mesma intensidade. Na minha sala apareceram uma espanhola e uma russa há algumas semanas atrás. A primeira vez que vi a espanhola pensei que ela fosse brasileira. Confesso que num ímpeto egoísta e nacionalista senti meu território invadido. Só que logo na primeira palavra dita, foi fácil perceber a origem. Serei justa, ela é uma amadora se comparada ao inglês trapalhão do espanhol daqui de casa. O nome dela é Tamara e a melhor frase, "see you tomorrow Tamara". A russa, uma adolescente de 18 anos, estuda economia em numa cidade perto-quase na Ucrânia. Como sempre, só amigos da minha faixa etária. Gente boníssima. Junto com ela chegou mais uns 30 russos. Todos da mesma faculdade e de férias. Foi uma invasão russa (trocadilho super atual). Não sei se é um jeito russo de ser, mas as meninas estavam sempre impecáveis. Maquiadas e de salto. Ok, um pouco anos 80 e desconfortável para quem pega ônibus e anda a pé. Pareciam seguir militarmente os estranhos conselhos recebidos por uma menina na década de 40. Só que algumas eram bem bonitas. Aliás, vocês não tem a impressão de que tudo que é relacionado a Rússia é meio parado no tempo? Meio esquecido. Velho. Sei que eles querem ser, e às vezes de fato são, os primeiros em tudo. Só que falta algo. Talvez marketing (que coisa nerd-e-infeliz). A maioria do grupo era meninas. O único menino que vi junto era a coisa mais esquisita. Além de ser uma quase menina. Duas pernas longilíneas com uma cabeça loura no topo. Aqui vale uma confissão-cheia-de-vergonha, toda vez que o via lembrava de Pablo. Conheci várias meninas do grupo, até mesmo porque o Mingu vivia atrás delas para aprender a falar nomes feios em russo. Ele criou uma obssessão por isso. Fora a da minha sala, fiz amizade com mais uma, a Irina. Divertidíssima! A melhor frase " don´t cry for me Irina". Nesse meio tempo aprendi algumas coisas em russo. O alfabeto é bem complicado, mas entendi porque todos os russos chamam blablabla-vich e as russas blablabla-vna. Encantando a todos com a melhor pronúncia, até mesmo porque imagine um coreano falando russo, gravei até um videozinho falando russo para a mãe de uma delas, a tia Natasha. Nome de vodka ruim. Ou seja, elas tem o mesmo espiríto da gente. Fazer vídeos para a posteridade, vamos assim dizer para eu me sentir menos boba. Na verdade as meninas me ensinaram apenas algumas coisas, o resto aprendi com um outro russo da minha sala. Ele é mega-ultra-super conservador e nacionalista. Tudo que se refere a Rússia é melhor, maior e verdadeiro. Não sei o que fizeram com esse garoto. Sempre que há discussão sobre algum assunto, nós discordamos. Segundo o espanhol (que tem uns comentários ótimos), eu devo ficar esperta já que o russo é de tamanho proporcional ao seu país. E como andam falando mal da Rússia nesses últimos tempos, ele anda nervoso. Para ajudar, essa semana entrou na nossa sala uma italiana chamada Geórgia. Agora me sinto mais segura, já que o foco não é mais a minha pessoa. Se bem que, depois das aulas de russo e de demonstrar meu interesse pelo país, ele me vê com outros olhos agora. Continuamos não concordando em nada, mas viramos amigos.


algumas meninas da minha sala - exceto a última
Soo (coreana), Tamara (espanhola), Shizuka (japonesa), Olga (russa) e Irina (russa)


Ontem foi a despedida mais recente. Um dos meus professores está voltando para a França. Não, ele não é da turma dos bicudinhos. Ele é um autêntico irish que dá aulas na terra de Napoleão. Sem dúvida foi uma das pessoas mais inteligentes e interessantes que conheci. E talvez, um dos melhores professores que já tive. Aliás, como sou quem escrevo, farei uma pausa para um comentário paralelo. Ou melhor, um desabafo.

(como sabem, essa parte é opcional)
Essa semana fiquei transtornada de uma maneira russa. Meu outro professor que também é bom, mas super-se-acha, fez um comentário muito infeliz para minha pessoa. Estávamos discutindo justamente a Rússia na mídia e blábláblá. Depois de o russo confessar que acredita só no que o presidente dele fala (?!), evoluímos o assunto para manipulação no geral. Conversa vai e conversa vem, chegamos nos supermercados. Não, não estou louca. Falávamos que nada nessa vida é por acaso. Daí comentei que para mim os supermercados irlandeses são um tanto quanto estranhos. E que as coisas são dispostas de uma maneira bêbada. Ele nem me deixou terminar, e me contou a super-novidade-uhuu de que tudo é planejado! Jura?! Eu estudei preciosos anos da minha vida para aprender, maquiavelicamente, a oferecer as soluções dos problemas da vida de um consumidor, e ele vem me contar isso como se eu fosse uma besta?! Faça-me o favor! Não é por que não sei como falar "rua de paralalelepípedo" em inglês, que sou uma estúpida na minha língua nativa. Agora não me venha querer convencer de que colocar pães quentinhos em frente a sessão de carne congelada é planejado. Ou que, é um baita negócio vender fraldas junto com os pratos prontos. Ou ainda que, compramos petiscos como amendoim e salgadinhos por impulso, já que ficam no mesmo corredor de comida para gatos! Argh...!


(agora podemos dar continuidade...)
Fomos almoçar todos num pub perto da escola. Num processo de decisão super difícil, fui salva ao ler a sugestão do chefe para o dia " Feijão preto com molho + arroz + bife". Senti como se estivesse num oásis. Parecia que aquele cardápio tinha sido feito para mim. Ia comer feijões. Para meu espanto, no prato havia apenas 12 (quase 13) feijões submergidos numa imensidão de molho doce e marrom. Ok, não era o que eu sonhava, mas até que estava bom.


John. O professor irish.

Na volta para casa, ganhei carona. Aliás, é a terceira vez! Na nossa sala tem um coreano bem de vida que comprou um carro aqui, e ele vive dando carona pra gente nessas ocasiões. Networking jóia esse. Ponto pra gente. Ingênua a gentileza alheia, cometi uma gafe patética. Super malandra e independente, vi o coreano indo para o lado esquerdo do carro e automaticamente, fui para o lado direito. Estava ridiculamente me espremendo entre a porta e a parede, quando escuto "Ellen, o que v. tá fazendo aí? V. é desse lado" (lembrando que aqui eles dirigem do lado contrário. Ou seja, meu lugarzinho de passageira era na esquerda). Eu olho e lá está ele com a porta aberta esperando. E ainda por cima tenho que escutar que não sei receber gentilezas. Na verdade, acho que não sei mesmo. Estou tão pouco acostumada que tenho dificuldades em lidar com isso. Que coisa triste. Dá pra repensar na vida. Enfim...


beijos dos lado direito,
Ellen


P.S. Há! Ontem o centro do universo estava em comemoração. Jaú fez 155 anos! (se não estou enganada)
P.S 2. Como vocês puderam notar, agora temos links interativos por aqui. Sugiro que abram em outra janela para evitar transtornos. Pâm, agradecida pela ajuda. Te dedico Pablo! = )

8 corações abertos:

Unknown disse...

Ellen, suas amigas são bem simpáticas e a espanhola bem bonita.O professor é uma figuraça tá mais pra cientista maluco do que professor.Todos deste tipo são bons professores.Pena que foi embora.Vc.estava querendo era dirigir não é mesmo? Tá careca de saber que aí a direção é do lado contrário.Espertinha vc.heim!,mas o coreano foi mais.Bjuss jauenses.

Pâm disse...

Ohhhhhh Confesso que fiquei até emocionada com a homenagem! E também compartilho sua visão empoeirada dos russos.
E sua mãe tem razão, seu professor parece desenho animado.

Aliás, pelas fotos que vi até agora, é impressão minha ou os coreanos(as) são orientais mais bonitinhos que o resto??

Bjos perepepenhos

JP disse...

Duríssima essa vida cosmopolita, não ??

Lilit disse...

Privet!!!
haha, a unica coisa q sei falar em russo!

professor figura. lembra o eric hobsbawm.
e a georgia e o russo se dão bem?rs
bjao

Pâm disse...

Caraca Lilit! foi longe essa, mas é mto verdade, lembra o Eric Hobsbawm! hahaha Sua nerd!

Mr. Japys disse...

em russo só sei que IR (pronunciado) significa EU

e tb sei q estou de folga amanhã...

sem criatividade para comentários :D

beijos

marisog disse...

Eu também tenho alguns amigos russos em roma ellen, e compartilho da sua opinião!haha Engraçado, SEMPRE discordo deles tb, pq sera??? A Russia nao é o máximooooo???? hahah bjos romanos

ps- vem me visitarrrrrr

Ellen disse...

Mari! V. esta por aqui!Fiquei feliz! =)
Seja mega bem vinda! E verao a 40 graus na Italia? Eu vou!
E so me falar quando volta para os lados de ca!!!
beijinhos