Depois de inúmeras pausas e anos depois, finalmente retomaremos ao assunto.
Como já havia dito anteriormente, as duas últimas semanas foram culturalmente intensas, vamos assim dizer. Pulando a parte traumática das brazilians parties e a escapada com a Borat numa sexta, posso dizer que tudo começou de verdade numa segunda-feira de ócio. Saí da aula e resolvi visitar todos os museus gratuitos da cidade. Passeio animador para esse dia da semana, isso se os museus não permanecessem fechados às segundas-feiras. Logo, fiquei frustrada. A única coisa que consegui ver foi uma exposição de um poeta irlandês (Yeats) na Biblioteca Nacional. Afinal, é biblioteca e elas não fecham. Foi interessante. Como havia escolhido ir para uma parte da cidade que ainda não conhecia resolvi ir visitar um parque que tem por lá, o Marrion Square. Aliás, adoro isso num europeu. Eles têm parques por todos os cantos, e levados pelo calor da emoção por ser verão, assim que sai um solzinho (ou qualquer coisa que os faça lembrar de um) eles se estiram no primeiro pedaço de grama e por lá ficam. Antes de me juntar a eles, fui caminhar e apreciar os verdes campos. No auge da minha viagem interna, escutei vozes infantis cantarolando. Olho para trás e vejo um grupo de 15-20 criancinhas alvas e louras, amarradinhas umas as outras e vestidas à moda irlandesa-estudantil-anos-20. Pensei estar delirando. Foi como se estivesse no Jardim Secreto. Encantada com a situação, banquei praticamente a pedófila e lá fui eu tirar foto das crianças. Tentei ser o mais discreta possível, mas acabei me sentindo a própria tia-do-espiríto-registrador-enlouquecido.
Não é das melhores fotos, até mesmo pela ocasião.
ohhh
Essa foi a última foto que tirei e já não estava mais tão mais cautelosa.
(vocês podem notar a felicidade do jovem rapaz ao ser clicado)
Ainda abobalhada e já um pouco envergonhada, fui embora do parque. Saí pelo outro portão, e quando olho para frente vejo uma rua repleta das famosas casinhas de tijolinho com as portas coloridas. Foram horas emocionalmente intensas. Fui andando pela rua e ridiculamente tirando foto de todas as portas. Quando já estava na esquina, percebo que a outra rua estava bloqueada e com a presença de inúmeros policiais (a Garda, que é a polícia irlandesa). Obviamente, algo acontecia. Fui lá conferir. Era o Sakorzy (?!). Sim, ele passou somente 4 horas na Irlanda aquele dia e estava prestes a deixar o prédio. Aliás, sabia que algo estava diferente aquele dia. Logo pela manhã quando peguei o super-disputado Luas, vi que alguns ovos haviam sidos atirados contra ele (mais tarde o francês-belga disse que eles possuem o mesmo trem na França, pois eles o construíram e depois o venderam para a Irlanda. Daí deduzi que o inofensivo bondinho pudesse ser uma espécie de representação napoleônica por aqui.) E como vocês podem ter percebido, os irlandeses odeiam-de-coração o Sakorzy. E sempre que o nome dele é mencionado, a palavra ovos vem em seguida. Curioso isso. E nessa onda de manifestações, claro que havia alguns seres na frente do prédio esperando ele sair. Alguns com cartazes, outros com camisetas e outros resguardando sua voz para o momento oportuno.
a farofa televisiva
uma revoltada
No dia seguinte, tive um passeio ousado. Isso porque não fui num irish pub, mas sim num pub tcheco, com vários tchecos e bebi cerveja tcheca. Na verdade, estavamos entre franceses, italianos, tchecos (claro) e uma russa. Ok, não vou mentir para vocês. Também havia casualmente outros 4 brasileiros, dos quais prefiro não fazer comentários. Eita azar o meu! Só um deles salvava. O pub em si não era muito diferente dos outros em que fui aqui, nada de decorações loucas-tchecas. Se bem que não faço a menor idéia do que poderia ser usado para isso também. O destaque foi a mesa de pebolim. Ficamos todos numa área reservada junto a duas mesas dessa. Foi divertido. Não, não fizemos um time brasileiro. Até mesmo porque meus interessantes-e-interessados conterrâneos ficaram por uns 40min (tempo que eles permaneceram no bar já que foram embora antes) conversando entre si, e educamente-ignorando o restante dos mortais. Enfim, já disse que prefiro omitir meus comentários. Meu time foi francês! Num ato de elevação espiritual e de perdão, esqueci por um momento quem era Zinedine Zidane e Henry, e me juntei a eles. Primeiro joguei com a Emmanuelle e perdemos significamente para os tchecos, e depois joguei com o pseudo-francês, ganhamos. E logo em seguida perdemos para os outros franceses. O campeonato foi boicotado na metade, pois como tinhamos que pagar pelas bolinhas, os meninos tiveram a brilhante idéia de colocar um papel na boca do gol. Ok, pode soar estranho já que o objetivo do jogo é a bola entrar no gol, mas acreditem, funciona! E digo mais, economizamos uma boa quantia de euros até sermos descobertos por um garçom (não sei se tcheco). Fomos para outro pub, dessa vez irish e insuportavelmente lotado. Pela primeira vez experimentei o irish coffee, é muito bom. Devido a falta de espaço e ar, fomos para outro lugar, de novo. Muito mais calmo e onde era possível conversar. Boa parte do povo nesse trajeto resolveu ir embora. Aqui tenho que ser justa, um dos brasileiros, o que salvava, ficou junto com a gente. Ele é amigo da francesa e bem gente boa. Estava aqui apenas estudar durante o mês de férias dele. E adivinhem? De origem oriental, claro! É meu lado amarelo. No mais, é muito esquisito conversar em inglês com alguém que fala a mesma língua que você.
alguns de nós
(brasileiro, francês, tcheco, pseudo-francês, tcheco, eu e a francesa)
Já não me lembro mais exatamente quando, mas também acho que pouco importa, fui a um restaurante coreano! Obviamente, nessa jornada Borat e Mingu estavam presentes. Como todas as palavras coreanas possuem o mesmo som e a mesma pronúncia, o nome do restaurante não poderia ser inovador: Bon Ga (agora repita para v. mesmo, claro, esses 3 nomes e com um sotaque indígena. É igual). Como esse povo come, caramba! Dá gosto de ver. O tempo médio gasto por eles num restaurante é de 3h!!! E não é come e pára, são 3h ininterruptas. O restaurante servia sistema de buffet: 10 euros e comida a vontade. Obviamente, fizemos esse investimento valer a pena. A comida é muito boa e bem apimentada. O prato típico deles é o kimchee. O cheiro não é dos melhores e sua descrição também não é das mais apetitosas, mas é gostoso. São vegetais fermentados e mantidos em conserva por longo período. O mais comum é feito com repolho e acelga, mas pode-se fazer também com rabanete, carnes, usar junto ao arroz, etc. Houve uma pesquisa sobre as comidas mais saudáveis do mundo, e o kimchee ficou entre as cinco primeiras. Ponto para mim e para eles! Eu acabei me esbaldando em lulas e ostras (com kimchee, claro) e nos gim bap (praticamente já sei falar coreano: gim=alga e bap=arroz. Ou seja, quase um sushi). Aliás, foi a primeira vez que comi ostras. Tudo bem que cozidas, mas estavam muito boas. Uma coisa curiosa, é que na Coréia eles não cobram pela água que v. bebe nos restaurantes. Nesse, por exemplo, havia um bebedouro (?!). Cada um pegava seu copinho num balcão e se servia. Esquisito! Só que para quem está bebendo água de torneira há quase um mês, foi luxo. A sobremesa era mais ocidental, sorvete e frutas. Nessa categoria encaixam-se os tomates. Pasmem, eles comem tomate sendo fiéis a sua definição. Eu realmente fiquei atordoada quando vi a Bora comendo tomate com laranjas! Achei que fosse uma excentricidade dela, mas não! Os tomates estavam cortados nas tigelinhas no mesmo balcão das frutas. Ainda bem que não é comum servirem salada de frutas, seria incapaz de comer. Claro que quando revelei a verdade sobre como comemos tomate por aqui (com sal) eles ficaram enojados. São os tais dos conflitos culturais.
Ainda envolta no meu lado amarelo, num dia desses, tomei chá preparado pela a japa-girl. Momento único de minha vida. O próximo passo será pedir a ela preparar um chá verde japonês, daí sim será uma espécie de nirvana. Também contei sobre minha experiência kim-gastronômica. E num ato de fragilidade, confessei sobre a minha rídicula habilidade em manusear o tal dos "pauzinhos". Sensibilizada, achamos um par de hashi na cozinha e a japa-crazy-girl me ensinou a técnica. Acho que ela acabou se sentindo acolhida, e me confessou que também tem dificuldade em comer com o garfo e faca! Achei tão, mas tão estranho ouvir isso de alguém civilizado. Segundo ela, a comida escapa pelos vãos dos garfo. Caramba! Nunca tinha analisado por esse ponto de vista. Aliás, nunca tinha parado para pensar que coreanos, japoneses e etc não possuem talheres em casa. Foi uma conversa enriquecedora. Agora já sou capaz de pegar grãos de arroz usando apenas dois pauzinhos.
beijos cosmopolitas,
Ellen
P.S. - No dia do Sakorzy eu me senti super parte da história. Esperei pelo noticiário a noite e aguardei pelos jornais gratuitos da manhã do dia seguinte. Se alguém se interessar, aqui está http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL680879-5602,00-SARKOZY+QUER+BUSCAR+SOLUCOES+AO+NAO+IRLANDES+AO+TRATADO+DE+LISBOA.html
P.S 2 - Como vocês puderam perceber, não há fotos do restaurante coreano. Isso se deve ao fato de eu estar atrasada pela manhã e sair correndo para aula, logo esqueci a câmera em casa. E foi um programa inesperado. Para se ter uma idéia de como é, achei o site do restaurante http://www.bonga.ie/main/. Na realidade, ele é pior do que aparece aí.
P.S 3- Postando com vários dias de atraso. Como vocês podem ver pela data era para ter sido publicado na quarta-feira, mas ainda não tinha finalizado. So sorry!