quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Eu e Robinson Crusoé

Darlings,

Óbvio que já perdi o fio da meada. Até pensei em começar a escrever cronologicamente os fatos, mas iria endoidecer. Também tenho milhares de posts-rascunhos, mas nenhum finalizado. Claro que depois de tanto tempo, já não fazem mais sentido. Então, vamos as novidades e aos poucos vou os atualizando dos fatos passados.

Estou de casa nova! Sim, cortei meus laços pseudo-familiares e vim para um novo cafofo no começo da semana passada. Entrei na vaga de um italiano. Ele é um ex-morador tanto da casa da Susan quanto do cafofo. Depois de uns 6 meses, acho, ele voltou para a Itália. Aqui faço uma de minhas observações. Quer dizer, vale mais como um momento curioso (ou não). Em Dublin, encontrar um apartamento para dividir é um processo árduo de seleção. Tudo começa na internet. Depois é preciso agendar uma visita e é nesse momento que coisas estranhas começam a acontecer. Normalmente, várias pessoas visitam no mesmo horário e no mesmo dia. Quase que um arrastão. Como me atrasei nas minhas visitas, acabei sendo a única pessoa. Você avalia a casa e os moradores, e eles te avaliam. No final do tour há uma entrevista e você deixa seu nome e telefone. Se você for uma pessoa jóia, eles te ligam em 24h. Ou seja, pessoas com conflitos-dramáticos-internos podem ficar arrasadas. Como não sofro de tal causa, sobrevivi ao dia que ninguém me ligou. A casa tem cara de apartamento. Fica numa área bem bacaninha de Dublin, mas a rua em si parece um bequinho. Para não desvalorizar, chamo de praça. É uma rua sem saída e as casas são todas de tijolinho com as portas coloridas uma de frente para outra. A minha é vermelha. Não, não são as tradicionais casas irlandesas. Diria que se trata de uma versão mais simplista. Teoricamente, moramos em quatro. Eu, mais dois irlandeses e uma irlandesa recém-desaparecida (no lugar dela virá uma americana, sabe-se lá quando). Na prática, moro apenas eu. Sim, depois de uma semana habitando o recinto, ainda não vi ninguém! Ou seja, tenho a mesma curiosidade que vocês (?) em saber quem são. O tal do italiano disse que eles trabalham e quase não ficam em casa. Ok, mas achei que ao menos para um banhinho, dormir ou até mesmo para trocar de roupa eles voltassem. Sabe-se lá por onde andam. Diria que tal episódio está me forçando a fazer uma terapia-praticamente-forçada-e-paga-em-euros contra meus pavores. Como boa parte de vocês sabem, tenho calafrios em lugares inabitados. Agora imaginem esse tal lugar inabitado com três andares gelados, portas de vidro e um silêncio perturbador. Agora coloquem esse lugar inabitado numa cidade medieval e chuvosa. Agora me coloquem dentro desse lugar inabitado. Tá, sei que é um tanto quanto ridículo já que tenho pouca-coisa-mais do que doze anos de idade. Só que é incontrolável. Quase que não passo da segunda noite, mas resolvi aceitar o problema. Talvez eu seja mais sovina do que medrosa. Seguindo os conselhos de algum sábio chinês, já que não posso vencê-los, resolvi me juntar a eles. Tomei posse da casa. Só que na primeira oportunidade, sairei correndo de mala e cuia. Literalmente.


versão amadora da real porta irish


não faço a menor idéia de quem seja a guitarra


meu cubículo


é normal ter a máquina de lavar roupa na cozinha
(no caso é essa daí da esquerda)

Já cansada de esperar alguém aparecer e tentanto amenizar meu sofrimento, convidei minhas duas amigas coreanas para almoçarem aqui em casa. A Bora, que vocês já são íntimos, e a Soo (leia-se Su). Assim como todos os asiáticos, ela também é acanhada, só que engraçada. É quase que igual a Bora. Saímos da escola na quinta-feira passada e viemos para casa. Depois de um período de dois meses de abstinência, comi um arroz de verdade. Com cebola e tudo. E digo mais, meu arroz! Para acompanhá-lo fiz o velho conhecido-e-tradicional estrogonofe. Sempre inovando. Ok, confesso que foi mais um ato saudosista. Cozinhar estrogonofe para um bando de esfomeados (alguns-dos-meus-queridos, não sintam-se insultados). Sim, por que coreano é esfomeado. Eles comem muito e por muito tempo. A parte revoltante? Eles são todos magros e de pele boa. E como já era de se esperar, elas comeram alucinadamente. Diria que foi um estrogo-irish. Isso por que aqui não há creme de leite, e sim uma espécie de leite cremosinho e fresco que deixa as coisas um pouco mais líquidas do que o necessário. Não sei se foi estupidez de minha pessoa, mas também não encontrei molho de tomate. Apenas tomate enlatado e extrato em pasta. Sim, a sensação é de cozinhar com creme dental. Já a carne aqui é extremamente cara. O quilo de uma carne comunzinha é cerca de 16-17 euros! Momento curioso? Estava eu comendo tranquilamente quando sinto movimentos bruscos e suados ao meu lado. Era a Soo tentando cortar a carne de uma maneira oriental. Com o garfo, ela pressionava a carne contra o prato (sem espetá-la, vamos assim dizer) e com a ponta da faca, tentava desgrudar um pedaço do outro (vamos assim dizer também). Sensibilizada, a ensinei a cortar. Usamos os tais pauzinhos orientais com a mesma frequência que eles usam nossos talheres por lá. De qualquer forma é estranho imaginar que uma pessoa quase-da-minha-idade e civilizada não tenha habilidades em comer com talheres. Parece primitivo, só que justificável. Assistimos a um filme, e quando ainda terminava de fazer minha digestão, as meninas queriam jantar (!!!). Realmente não sei os que mantém estreitos. Elas trouxeram noodles coreanos. Cada uma cozinhou o seu saquinho, a Bora ficou com o picante e a Soo com o não picante (para mim, apenas menos picante). Diria que é um miojo mais elaborado. Muito saboroso. Descobri que eles comem isso no café da manhã também. Talvez seja esse o segredo. Pela primeira vez comi um pedaço de alga gigante. Diferente daquelas usadas em rolinhos japoneses ou coreanos. É espessa, dura e parecida com plástico. E também sem gosto. No fim, o que era só um almoço terminou as 22h. Diria que foi um dia cheio.


Bora e o estrogô


Soo e o estrogô

* Coisas curiosas da casa...
Como na maioria das casas irlandesas, tudo é elétrico. O chuveiro, por exemplo, é preciso apertar um interruptor antes de ligá-lo. Obviamente, se não o fizer, ele não ligará. E para fazê-lo efetivamente funcionar, nada de girar torneirinhas. É só abertar o botão power. Tudo muito moderno. Em relação ao fogão é a mesma coisa. Nada de gás. É preciso ligá-lo num interruptor e depois só girar o botãozinho que já está funcionando. Outro fato curioso e que eu ainda não entendi a utilidade, é o fato de todas as tomadas terem interruptores. Ou seja, é preciso deixá-la no on (claro!) para depois usá-la.

** Coisas curiosas da TV
Depois de dois meses, sentei em um sofá. Confesso que não só sentei, como até deitei. Sim, na homestay apenas a família tinha acesso a sala. Assistíamos TV sentados na sala de jantar. Não era de um todo ruim, mas também não passava despercebido. Os programas do Brasil são iguais ao daqui. Luciano Huck, Silvio Santos e até Márcia Goldschimidt (não faço a menor idéia de como escreva isso) é a cópia descarada e traduzida. A novela irlandesa é a pior possível. Assisti a uns 5 minutos por pura curiosidade. Mais do que isso é insuportável.

beijinhos assustados,
Ellen

P.S. Final de semana passado fui à Belfast. Aguardem novidades!

5 corações abertos:

Mr. Japys disse...

Ellen,

bom te ler novamente...

se a guitarra for uma FENDER, pode surrupiar pra mim. Se for uma SQUIER, não.

Seu quarto novo e o seu antigo (daqui) espelhado...

Eu seria feliz com uma cozinhona dessa... bem confortável... :D

A Soo parece a... Sadako...

Achei o lance dos interruptores bem ineligentes. Isso deve ser pra, basicamente, evitar gastos desnecessários e curto-circuitos.

O da tomada ía ser útil pra mim :D

Para evitar essas crises de solidão faça festas todos os dias.

Ou comece a se alcoolizar, como todos aí.

Beijos

Pâm disse...

Ellen, sempre mantendo a tradição de arrumar amigas, digamos, boas de garfo. Com uma ligeira variação dimensional.

Ah, minha cara, qdo ouvi falar a primeira vez do ap novo achei q fosse um muquifo (nunca escrevi essa palavra). Mas pelas fotos é um muquifo chique! Achei lindo o apartamento. Se eu fosse você começaria a deixar bilhetes para os outros habitantes. Se eles responderem, é pq há vida na casa.

Bom, minha cara, boa sorte e escreva mais. Bjo

Lilit disse...

amigos mortos de fome...fiquei sensibilizada foi com as taças..nunca nos serviu com taças de água!!

e gostiei do apto tb e da idéia dos bilhetinhos da pam...será bem divertido! =)

bjao

Marcela Bonfim disse...

Tá dormindo de luz acesa... Aposto!

Marcela Bonfim disse...

OBS: Ellen as cori-girls são muito bonitinhas e engraçadas. Diria que transbordam carisma. Olhando para elas dá vontade de rir... Imagino a sua alegria em recebê-las depois de uma clausura forçada :^() (Essa é uma carinha de susto).

Beijos.